sexta-feira, abril 27, 2012


Queria eu, um dia, parar um estranho – aquele belo, naturalmente, intrinsecamente belo – e perguntar-lhe como é ser belo desse jeito. Como é ser desejado. Qual desejo esconde-se atrás do desejo alheio, aquele que atinge-o a cada instante, de todos os lados. Quero saber também (e por isso preciso conversar) se a beleza de fora toca na beleza de dentro. Eu acho que sim. Tem vezes que a beleza é tanta que não basta só aparecer no lado de fora. Tem vezes que a beleza é tão forte que fura a carapaça e penetra no infinito de possibilidades da parte dentro. Quero saber tudo isso. Quero mas não o faço. Tenho medo. Sou covarde mesmo. Outros chamam de timidez, mas eu, que não preciso ser educado comigo mesmo, me chamo de covarde.

Quero saber tudo isso, por que quero entender a beleza e o desejo. Talvez entendendo-os eu consiga decifra-los e convertê-los a uma equação que me sirva de base para a minha própria beleza. Já o desejo é mais complexo. Preciso trabalha-lo para que sirva aos outros. Esse é mais difícil, mas a beleza já é metade de equação. Um x somado com um outro x e divido por y.

O resultado por ser o fim dos dias de inexistência. Aqueles dias, como tantos e tantos e tantos outros, que eu não sinto mais. Desisto. Privo-me de sentir até que deixo de existir. A inexistência acontece lentamente. Chega devagar e me toma. Somem meus pés e vai subindo. Já é noite quando minha cabeça desaparece. Aí eu durmo e acordo noutro dia. Acordo existindo de novo. Existência renovada. Medos renovados. Levanto e não me olho no espelho – tal como um vampiro. E Dorian Gray, o eternamente jovem. Tomo meu café. Me visto. Saio para mais um dia devagar. Até a inexistência já faz parte do cotidiano. À noite, sem existir, eu durmo e  replay. Tudo de novo.

Quero entender essas coisas.

Preciso entender.