“Hoje foi um daqueles dias!”
Repeti essa frase pelos menos umas 50 vezes hoje. Disse a minha mãe ao telefone, a todo mundo que pude na agência e mais a algumas pessoas na rua que tiveram a oportunidade de serem testemunhas de como “hoje foi um daqueles dias!”.
Não dormi essa noite, rolei na cama até a cama começar a reclamar e ranger durante o resto da noite. Meus vizinhos brigaram, brandando alto o quanto se odiavam e depois chorando e gritando um para o outro o quanto não podiam viver separados.
Na noite passada tomei muitas Cocas e algumas outras canecas de café extra forte durante o trabalho exatamente por que nunca durmo direito de domingo para segunda. O resultando de tanta cafeína correndo em minhas veias foi, é claro, uma noite de olhos bem abertos.
Às 7:00h desisti de dormir e acordei (sim, 7:00h ainda é cedo para acordar) fiz meu café da manhã enquanto assistia Friend. Não ri em nenhum momento, bom humor não existe antes das 11:00h. Até aí, tudo bem. Tomei banho e saí, não havia transito e as barcas estavam operando normalmente – acontecimento notável. Depois de entrar na embarcação percebi que havia deixado meu iPod em casa, nada de músicas, somente aquele estranho silêncio da manhã. Aproveitei para ler mas não consegui estava sem concentração e, incrivelmente, o silêncio de todas as pessoas me incomodava. Tentei dormir um pouco, vinte minutos de sono já são alguma coisa, mas também não consegui. Maldito silêncio! Derrotado por circunstâncias comuns, desisti e fiquei parado em stand by.
Meia hora depois, já estava na agência, trabalhando. Ou melhor: resolvendo problemas. Milhões deles. Alguns meus, admito. Outros de outros e esse eu odeio. Problemas em inglês, espanhol e português. No meio de cada um outros milhares de telefonemas em inglês, espanhol e português. Nada chamou mais a minha atenção do que o pequeno relógio no canto inferior da tela do computador, namorei-o o dia todo, jogando charme para que ele fizesse as minhas vontades mas nada... o tempo é difícil e mimado, não se vendo a charme e cantadas baratas.
Esperei. Esperei. E esperei.
Saí 19:30h, mais tarde do que eu queria e mais cedo do que eu deveria. Não me importei e saí mesmo, sem olhar para trás. No caminho para o ponto decidi comprar um sunday de chocolate porque nada melhor do que chocolate para terminar um dia daqueles. É claro, a calda de chocolate havia acabado. Pedi um de morango e segui meu caminho.
“Finalmente esse dia maldito acabou”, pensei. Eu sou ingênuo e sei disso, só não tinha noção do tamanho da minha ingenuidade e do tamanho da crueldade “daqueles dias”. Andando pelo Catete (havia decidido caminhar um pouco e pegar o ônibus alguns pontos a frente) tropecei na beira da calçada e meu sunday de morango caí da minha mão sem nem ao menos ter me dado alguma de suas colheradas. A calda escorrendo parece sangue e o sorvete algum tipo de massa cefálica derretida. Eu? Caí de joelhos no chão, torci dolorosamente meu pé e ralei as palmas das minhas mão.
E também chorei. É. Sentei na mureta de um jardim e chorei. Por uns três minutos e em silêncio, deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e caírem no chão, secando rápido e sem deixar marcas.
Chorei mesmo.
O caminho para casa foi melhor, o ônibus atrasou, esqueci de comprar alguma coisa para comer e não tirei dinheiro mas, a volta foi melhor de alguma forma. Talvez foi o choro, não sei.
Agora eu escrevo, por que não há nada melhor do que umas boas palavras para terminar um “dia daqueles!”.