domingo, setembro 30, 2012

Sempre costumo ler as crônica de Martha Medeiros na Revista O Globo e essa semana encontrei um texto especial que define exatamente a sensação de viajar sozinho e reflete a minha experiência de viajar sozinho pela primeira vez.

Segue trecho:


"Se você não se atura, melhor não viajar em sua própria companhia. Mas se está tudo bem entre “vocês”, saiam por aí e descubram como é bom sentar num café num dia de sol pedir algo para beber enquanto lê um bom livro, subir até terraços para apreciar vistas deslumbrantes, entrar em lojas e ficar lá dentro o tempo que desejar, entrar num museu e sair dali quando bem entender, caminhar sem trajeto definido nem hora para voltar, pedalar ao longo de um rio ouvindo suas musicas preferidas no iPod, em conexão com seus pensamentos e sentimentos, nada mais. 

Vergonha? Senti poucas vezes na vida, quando não me reconheci dentro da minha própria pele. Mas estando em mim, sob qualquer circunstância, jamais estarei só."

sexta-feira, junho 15, 2012

Carta ao Passado

Antigo Eu,



Daqui a dez exatos dias, você fará 25 anos. É hora de conversarmos. Você, sendo eu, precisar saber o que aprendeu nesse quarto de século. Essa apresentação antecipada em nada vai mudar o seu aprendizado, eu sei. Mas adiantando o que sei, talvez a surpresa do conhecimento não seja assim tão assustadora e, ambos sabemos, que você não gosta de surpresas, que as teme como teme aranhas, insetos voadores, a solidão e a morte daqueles que ama. Também sei que você não gosta de ter medo, assim adianto a surpresa, tentando, ao pôr-la sob a luz, enfraquece-la (eu sei, então nós sabemos, que não podemos destruí-la completamente). 

Aos 25, você descobrirá que, mesmo não se dando conta, já é um adulto e que ser adulto não é tão ruim (ou importante) quanto você pensava aos 17. Ser adulto é seguir em frente, tropeçando, esbarrando, caindo e se levantando, em um frenesi quase delirante criado pela necessidade de movimento. Aos 25, você irá se apaixonar (sabemos, você e eu, que isso já aconteceu antes, pouco tempo antes, aos 24, mas o entendimento, como tudo na sua, nossa, vida chega devagar, bem depois, tímido e silencioso) e que o amor não é como nos filmes e livros que você tanto preza. No amor, a vida não imita a arte, mas ambas atuam sobre reflexos esfumaçados de cada uma. Você vai amar e sentir-se completo. Feliz, até. Quem diria? Você vai amar e se entregar, abrir o próprio tórax e, do interior escuro e úmido, retirar uma parte de si que nunca fora dividida. Você vai render-se as fantasias descabidas e não se envergonhará de assumir, na intimidade dos dois, que ama. Você também irá ouvir que é amado, mas, sendo quem é: nós, você não acreditará completamente. É mais forte do que você (nós) consegue acreditar. Mas daqui, em alguns meses no futuro, eu posso dizer que você foi amado, não o suficiente (isso, você do passado, já sabe), mas de forma infinita no espaço finito de tempo que teve. Você vai perceber que através desse amor, você cresceu e, desse crescimento, foi feliz. Mas você (nós: eu e você) sabe que o amor, ao menos esse, não durou. E, eu sei, que você duvida que exista o infinito. Ainda não tenho a resposta para isso. 

Você verá o amor se dissolver lentamente e nada fará, não por preguiça ou inércia que são defeito seus (e nossos ainda), mas porque não há nada a ser feito realmente. Depois do fim, você será outra pessoa e reparará com tristeza a mudança dentro de si. Você se tornará frio, distante, temendo um contato, o amor, a promessa do infinito no tempo finito e reclamará (mais do que nunca) que não é amado. Você ouvirá (não posso prometer que não se machucará) que a culpa é sua por não procurar, abrir-se para a possibilidade e você saberá que seus amigos estão certos, mas a verdade, como sempre, machuca e magoa. Eu não poderia te preparar para essa surpresa. 

Você passará pálidos dias e longas noites sozinho. Prepara-se. Não, melhor não. As longas noites virão e você perceberá que a solidão é quase palpável. Essa tangibilidade cruel, uma afirmação não desejada da realidade que sempre te machucou, o fará pensar que talvez não seja apto a amar, que não tenha nascido para isso. Você (ambos, nós) sabe que não foi feito para relações. Elas são sempre novas para você e você não reage bem à novidades, sempre temendo-as como teme aranhas e insetos voadores. Haverá dias que a solidão será demais e o ódio também existira, nesse espaço finito, infinito. Você verá que todos amam, o que você é incapaz de fazer. E que todos permitem serem amados. Você também não é capaz de fazê-lo. Na solidão, você notará que livros não são companhias perfeitas. Nem o silêncio que você tanto preza. Esse entendimento também chegará tardiamente, sorrateiro. Você se apaixonará por alguém apaixonado por outro. E a realidade dessa dor, a concepção da realização da falha, o machucará. Mesmo avisando-o, a dor o alcançará. 

Mas não se preocupe, existirá felicidade no seu futuro, risadas, bons livros, novas pessoas e entendimento tardios. Para eles, você não precisa ser preparado e nem avisado. Eles chegarão e serão bem vindos. 

Eu poderia dizer que tudo será melhor, mas não sei. Talvez o meu futuro possa fazê-lo, mas ele ainda não me escreveu uma carta. Estou (estamos, nós dois) aguardando. 

sexta-feira, abril 27, 2012


Queria eu, um dia, parar um estranho – aquele belo, naturalmente, intrinsecamente belo – e perguntar-lhe como é ser belo desse jeito. Como é ser desejado. Qual desejo esconde-se atrás do desejo alheio, aquele que atinge-o a cada instante, de todos os lados. Quero saber também (e por isso preciso conversar) se a beleza de fora toca na beleza de dentro. Eu acho que sim. Tem vezes que a beleza é tanta que não basta só aparecer no lado de fora. Tem vezes que a beleza é tão forte que fura a carapaça e penetra no infinito de possibilidades da parte dentro. Quero saber tudo isso. Quero mas não o faço. Tenho medo. Sou covarde mesmo. Outros chamam de timidez, mas eu, que não preciso ser educado comigo mesmo, me chamo de covarde.

Quero saber tudo isso, por que quero entender a beleza e o desejo. Talvez entendendo-os eu consiga decifra-los e convertê-los a uma equação que me sirva de base para a minha própria beleza. Já o desejo é mais complexo. Preciso trabalha-lo para que sirva aos outros. Esse é mais difícil, mas a beleza já é metade de equação. Um x somado com um outro x e divido por y.

O resultado por ser o fim dos dias de inexistência. Aqueles dias, como tantos e tantos e tantos outros, que eu não sinto mais. Desisto. Privo-me de sentir até que deixo de existir. A inexistência acontece lentamente. Chega devagar e me toma. Somem meus pés e vai subindo. Já é noite quando minha cabeça desaparece. Aí eu durmo e acordo noutro dia. Acordo existindo de novo. Existência renovada. Medos renovados. Levanto e não me olho no espelho – tal como um vampiro. E Dorian Gray, o eternamente jovem. Tomo meu café. Me visto. Saio para mais um dia devagar. Até a inexistência já faz parte do cotidiano. À noite, sem existir, eu durmo e  replay. Tudo de novo.

Quero entender essas coisas.

Preciso entender.

sábado, março 31, 2012

Acordei cedo esse sábado decido a arrumar minhas coisas. Tenho muitos livros deixados em pilhas, empoeirados, abandonados e descuidados. Admito que dedico pouca atenção a aqueles não me agradaram, mesmo que respeitando-os como as entidades que são. Acordei hoje desejando prestar-lhes respeito e o mínino de atenção. A mesma atenção que prestamos as coisas - e pessoas - que são pouco interessantes, mas dignas de respeito. 

Retirei todos do lugar, limpei-os um à um, despondo-os em cima da minha cama ainda desfeita. Alegrei-me em encontrar alguns títulos que já considerava perdidos e arrependi-me de ter dado outros que agora sinto falta. Não, falta não: saudades. Sinto saudades de alguns deles. 

Entre livros encontrei três cadernos antigos, completamente preenchidos com poesias, contos, idéias, desenhos, pensamentos, desabafos e confissões. 

Não tive coragem de lê-los, nem mesmo os folheei. Não sinto saudade das partes de mim que deixei impressas nas folhas já secas e amassadas desses cadernos, apenas as respeito como as entidades que são.

domingo, março 25, 2012

Insuficiente

Esse é um dos últimos frames da cena final de Like Crazy, filme indie dirigido pelo até então desconhecido Drake Doremus, tendo como protagonistas Anton Yelchin e Felicity Jones (perfeita). 

Aos desinteressados, Like Crazy não passaria de mais um dos inúmeros romances indies pós-500 Dias com Ela (500 Day of Summer), bebendo livremente da cultura pop dos anos 80, principalmente de filmes e literatura. Felizmente, Like Crazy vai além.

Acompanhamos o relacionamento e principalmente a vida da escritora Anna e o design de móveis Jacob. Os dois se conhecem na faculdade, quando Anna declara-se através de uma carta. A relação inclui idas e vindas, viagens até Londres (onde Anna mora) e a descoberta de outros tipos de amores. E é nesse ponto onde Like Crazy mostra sua verdadeira força.

O filme capta a essência do amor entre duas pessoas e retrata como nossos sentimentos mudam com o tempo e como nós mesmos mudamos com o tempo, como somos empurrados pela vida em direções que nem sempre desejamos ir. Depois de cinco anos juntos, Anna e Jacob percebem que deram tempo demais, viveram demais e amaram de menos. O olhar de Anna na última cena retrata a plena constatação de que o amor nem sempre é o suficiente em uma relação.

Mas para onde vai aquele amor arrebatador que vivemos no inicio de uma relação? Como aquela pessoa, antes o centro de seus pensamentos, o dono do seu futuro, transforma-se em um estranho, uma face reconhecível, mas desconhecida?

Ainda me questiono, mesmo um mês depois de terminar meu primeiro relacionamento palpável com outra pessoa. Quando essa mudança aconteceu? Quando as peças dentro de mim deixaram de trabalhar em compasso e trocaram seus ritmos por uma batida nova, descompassada, atrasada?

Não sei. Acredito que nunca vou realmente saber. Apenas me lembro que acordei um dia e já não o amava.   Não da mesma forma que antes, diferente de horas atrás, antes de fechar os olhos e não sonhar com ele.

Como em Like Crazy, não há respostas para esse final. Apenas a constatação de que o amor nem sempre é suficiente. E a vida sempre segue.

Porque, entre talheres e vinhos, eu já não era a mesma, nem ele. O tempo havia passado e, junto com tudo, o carinho, o sentimento, a paixão. Ficou outra coisa.