sábado, março 31, 2012

Acordei cedo esse sábado decido a arrumar minhas coisas. Tenho muitos livros deixados em pilhas, empoeirados, abandonados e descuidados. Admito que dedico pouca atenção a aqueles não me agradaram, mesmo que respeitando-os como as entidades que são. Acordei hoje desejando prestar-lhes respeito e o mínino de atenção. A mesma atenção que prestamos as coisas - e pessoas - que são pouco interessantes, mas dignas de respeito. 

Retirei todos do lugar, limpei-os um à um, despondo-os em cima da minha cama ainda desfeita. Alegrei-me em encontrar alguns títulos que já considerava perdidos e arrependi-me de ter dado outros que agora sinto falta. Não, falta não: saudades. Sinto saudades de alguns deles. 

Entre livros encontrei três cadernos antigos, completamente preenchidos com poesias, contos, idéias, desenhos, pensamentos, desabafos e confissões. 

Não tive coragem de lê-los, nem mesmo os folheei. Não sinto saudade das partes de mim que deixei impressas nas folhas já secas e amassadas desses cadernos, apenas as respeito como as entidades que são.

domingo, março 25, 2012

Insuficiente

Esse é um dos últimos frames da cena final de Like Crazy, filme indie dirigido pelo até então desconhecido Drake Doremus, tendo como protagonistas Anton Yelchin e Felicity Jones (perfeita). 

Aos desinteressados, Like Crazy não passaria de mais um dos inúmeros romances indies pós-500 Dias com Ela (500 Day of Summer), bebendo livremente da cultura pop dos anos 80, principalmente de filmes e literatura. Felizmente, Like Crazy vai além.

Acompanhamos o relacionamento e principalmente a vida da escritora Anna e o design de móveis Jacob. Os dois se conhecem na faculdade, quando Anna declara-se através de uma carta. A relação inclui idas e vindas, viagens até Londres (onde Anna mora) e a descoberta de outros tipos de amores. E é nesse ponto onde Like Crazy mostra sua verdadeira força.

O filme capta a essência do amor entre duas pessoas e retrata como nossos sentimentos mudam com o tempo e como nós mesmos mudamos com o tempo, como somos empurrados pela vida em direções que nem sempre desejamos ir. Depois de cinco anos juntos, Anna e Jacob percebem que deram tempo demais, viveram demais e amaram de menos. O olhar de Anna na última cena retrata a plena constatação de que o amor nem sempre é o suficiente em uma relação.

Mas para onde vai aquele amor arrebatador que vivemos no inicio de uma relação? Como aquela pessoa, antes o centro de seus pensamentos, o dono do seu futuro, transforma-se em um estranho, uma face reconhecível, mas desconhecida?

Ainda me questiono, mesmo um mês depois de terminar meu primeiro relacionamento palpável com outra pessoa. Quando essa mudança aconteceu? Quando as peças dentro de mim deixaram de trabalhar em compasso e trocaram seus ritmos por uma batida nova, descompassada, atrasada?

Não sei. Acredito que nunca vou realmente saber. Apenas me lembro que acordei um dia e já não o amava.   Não da mesma forma que antes, diferente de horas atrás, antes de fechar os olhos e não sonhar com ele.

Como em Like Crazy, não há respostas para esse final. Apenas a constatação de que o amor nem sempre é suficiente. E a vida sempre segue.

Porque, entre talheres e vinhos, eu já não era a mesma, nem ele. O tempo havia passado e, junto com tudo, o carinho, o sentimento, a paixão. Ficou outra coisa.