Primeiro, antes de cometer mais qualquer comentário errado sobre o assunto, vamos criar uma regrinha para o post de hoje: eu prefiro utilizar o termo aeromoças do que comissárias de bordo. E, não me importo se chama-las assim é certo ou errado. Não tenho a minima ideia do que significa comissária de bordo e não costumo utilizar palavras ou termos que não conheço suficientemente bem – somente algumas vezes, quando quero impressionar pessoas facilmente impressionáveis com minha longa lista de palavras estranhas e, absurdamente, sofisticadas, que só pessoas com a vida literária altamente ativa (e, consequentemente, nenhuma vida social) podem, e devem, saber.
O parágrafo acima foi dedicado exclusivamente à minha amiga que descende de uma longa linhagem de aeromoças e não suporta ser chamada de tal nome. Bem vinda ao oitavo círculo do inferno, chamado de world wide web, ou pelos pecadores mais fervorosos: internet.
Então, no texto a seguir, serão encontradas diversas menções à palavra aeromoça e nenhuma ao termo comissária de bordo.
Regras postas à mesa, podemos continuar.
Seguindo uma escala evolutiva decrescente, não poderíamos ter aeromoças sem os aeroportos e sem, principalmente, aviões. E sem aviões (obrigado Santos Dumont) não teríamos o medo de voar. E sem aviões, aeroportos, aeromoças e Santos Dumont eu não sofreria de tal medo. Isso é pura física quântica em seu grau mais ridículo, tudo e todos estão ligados, de alguma forma.
De todos os outros medo que eu tenho, não são muitos, apenas... suficientes, o medo de voo ganha até mesmo do medo de altura. Felizmente eu não preciso confronta-lo muitas vezes, somente uma vez a cada 365 dias, quando a firma (odeio esse nome, mas sempre acabo utilizando-o) promove sua festa de final de ano em São Paulo. A festa realmente não tem importância nesse texto e não é nada de mais: bebida, dança, comportamento ousado com seus colegas de trabalho e fotos infelizes que desaparecem magicamente dos computadores, com o devido tempo. Isso significa que pelo menos uma vez ao ano eu tenho que entrar em uma lata de metal com turbinas e voar por 40 minutos até outro estado. Esse ano prometi a mim mesmo que tentaria, apenas tentaria, não passar mal como acontece todos os anos e sabendo como minha força de vontade é fraca e pouco persistente, cerquei-me de todos os artifícios possíveis: remédios para enjoo + remédios para dor de cabeça + respiração cachorrinho + chiclete de menta + livro colado na cara. E tudo funcionou perfeitamente bem, não passei mal, suei frio poucas vezes e segurei outras mãos tremulas e suadas algumas poucas vezes.
Mas, é claro, eu também observei. Sou um voyer instintivo, sem chances de cura. Isso não significa que eu goste de olhar pessoas tomando banho pela fechadura da porta. Não sou um pervertido, ao menos não a esse ponto, e meus fetiches estão ligados a objetos: livros, estantes cheias de livros, palavras impressas nas páginas dos livros, capas de livros e xícara de café. Também tenho fetiche por café mas não sei se ele pode ser configurado como um objeto. E voltando as observações, nada melhor para se observar, quando se é um observador de costumes e situações, do que as plácidas figuras das aeromoças. Elas são incríveis, entendam. Mas também são assustadoras. E o que é assustador nelas é como se parecem com mães afetadas por overdose de produto estéticos para rejuvenescimento, robôs magros e perfeitos que deixariam Asimov com câimbras cerebrais e atendentes de telemarketing sempre te chamando de senhor (aquele senhor com um pingo de respeito mergulhado em um oceano de formalidade e ódio velado).
Ainda assim, elas são incríveis. Andando pelo corredor principal da cabine com seus uniformes impecáveis e rostos maquiados.
“Gostaria de uma bala, senhor?” “Claro!”
“Gostaria de um lanche, senhor?” “Claro!”
“Coca ou suco, senhor?” “Claro! Digo.. Coca!”
“Posso vender seu fígado no mercado negro, senhor?” “Coca! Digo... Claro!”
Elas são incríveis, entendam.