sábado, dezembro 18, 2010

Aeromoças e Física Quântica

Existe algo de reconfortante, estranho, sensual, distante e irritante nas aeromoças.

Primeiro, antes de cometer mais qualquer comentário errado sobre o assunto, vamos criar uma regrinha para o post de hoje: eu prefiro utilizar o termo aeromoças do que comissárias de bordo. E, não me importo se chama-las assim é certo ou errado. Não tenho a minima ideia do que significa comissária de bordo e não costumo utilizar palavras ou termos que não conheço suficientemente bem – somente algumas vezes, quando quero impressionar pessoas facilmente impressionáveis com minha longa lista de palavras estranhas e, absurdamente, sofisticadas, que só pessoas com a vida literária altamente ativa (e, consequentemente, nenhuma vida social) podem, e devem, saber.

O parágrafo acima foi dedicado exclusivamente à minha amiga que descende de uma longa linhagem de aeromoças e não suporta ser chamada de tal nome. Bem vinda ao oitavo círculo do inferno, chamado de world wide web, ou pelos pecadores mais fervorosos: internet.

Então, no texto a seguir, serão encontradas diversas menções à palavra aeromoça e nenhuma ao termo comissária de bordo.

Regras postas à mesa, podemos continuar.

Seguindo uma escala evolutiva decrescente, não poderíamos ter aeromoças sem os aeroportos e sem, principalmente, aviões. E sem aviões (obrigado Santos Dumont) não teríamos o medo de voar. E sem aviões, aeroportos, aeromoças e Santos Dumont eu não sofreria de tal medo. Isso é pura física quântica em seu grau mais ridículo, tudo e todos estão ligados, de alguma forma.

De todos os outros medo que eu tenho, não são muitos, apenas... suficientes, o medo de voo ganha até mesmo do medo de altura. Felizmente eu não preciso confronta-lo muitas vezes, somente uma vez a cada 365 dias, quando a firma (odeio esse nome, mas sempre acabo utilizando-o) promove sua festa de final de ano em São Paulo. A festa realmente não tem importância nesse texto e não é nada de mais: bebida, dança, comportamento ousado com seus colegas de trabalho e fotos infelizes que desaparecem magicamente dos computadores, com o devido tempo. Isso significa que pelo menos uma vez ao ano eu tenho que entrar em uma lata de metal com turbinas e voar por 40 minutos até outro estado. Esse ano prometi a mim mesmo que tentaria, apenas tentaria, não passar mal como acontece todos os anos e sabendo como minha força de vontade é fraca e pouco persistente, cerquei-me de todos os artifícios possíveis: remédios para enjoo + remédios para dor de cabeça + respiração cachorrinho + chiclete de menta + livro colado na cara. E tudo funcionou perfeitamente bem, não passei mal, suei frio poucas vezes e segurei outras mãos tremulas e suadas algumas poucas vezes.

Mas, é claro, eu também observei. Sou um voyer instintivo, sem chances de cura. Isso não significa que eu goste de olhar pessoas tomando banho pela fechadura da porta. Não sou um pervertido, ao menos não a esse ponto, e meus fetiches estão ligados a objetos: livros, estantes cheias de livros, palavras impressas nas páginas dos livros, capas de livros e xícara de café. Também tenho fetiche por café mas não sei se ele pode ser configurado como um objeto. E voltando as observações, nada melhor para se observar, quando se é um observador de costumes e situações, do que as plácidas figuras das aeromoças. Elas são incríveis, entendam. Mas também são assustadoras. E o que é assustador nelas é como se parecem com mães afetadas por overdose de produto estéticos para rejuvenescimento, robôs magros e perfeitos que deixariam Asimov com câimbras cerebrais e atendentes de telemarketing sempre te chamando de senhor (aquele senhor com um pingo de respeito mergulhado em um oceano de formalidade e ódio velado).

Ainda assim, elas são incríveis. Andando pelo corredor principal da cabine com seus uniformes impecáveis e rostos maquiados.

“Gostaria de uma bala, senhor?” “Claro!”

“Gostaria de um lanche, senhor?” “Claro!”

“Coca ou suco, senhor?” “Claro! Digo.. Coca!”

“Posso vender seu fígado no mercado negro, senhor?” “Coca! Digo... Claro!”

Elas são incríveis, entendam.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Sobre blogs e crustáceos mutantes

Assisti, mais uma vez, o filme Sex and the City e enquanto Carrie Bradshaw digitava palavras sem sentido em seu belo iMac, fui tomado por uma vontade de escrever ou simplesmente digitar palavras sem sentido no meu humilde PC, que está longe de ser um iMac de ultima geração, tão fino quanto a palavra slim pode ser. É claro que a minha imagem ao digitar palavras desconexas no computador é completamente diferente dos delírios glamourosos envolvendo Sarah Jessica Parker, digitando com suas perfeitas unhas douradas em um apartamento em Manhattan enquanto bebe um pouco de café e traga seu Malboro Light.

Enfim...

Sem ter o que escrever realmente, eu pensei nos milhares de outros blogs que existem no mundo. Eu nunca realmente me importei com esse papo de blogosfera e todos os termos cibernéticos e modernos ligados a ela. Blogs continuavam blogs, páginas simples onde as pessoas escrevem sobre suas vidas simples - ou não tão simples assim.

Mas, após uma rápida pesquisa sobre os melhores blogs do mundo, me deparei com uma lista dos 50 melhores blogs indicados pelos blogueiros mais conhecidos do país, todos dispostos em um complexo organograma que me fez desistir de qualquer investigação posterior. Mas, uma coisa que percebi foi a quantidade de assuntos que os tais 50+ tratam. Carros, ciências políticas de vilarejos comunistas no sul da Rússia, celebridades, carros, esculturas de gelo, e diversos outros assuntos em todas as áreas passíveis de interesse humano. E nenhum deles, na lista de 50+, tratava de um blog sobre a vida simples - ou não tão simples assim - de qualquer ser humano no planeta.

Isso foi surpreendente. Realmente surpreendente. Mesmo sendo uma pessoa com uma vida relativamente ativa na blogosfera (exite nome pior?), escrevo em blogs desde o ensino médio, eu fiquei realmente surpreso ao perceber, com um certo pesar, e pela primeira vez, que os blogs são coisas maiores. Pior: coisas profissionais algumas vezes.

Não posso negar como me senti datado ao perceber que os meus pensamentos sobre uma grande rede de pessoas solitárias escrevendo piadas espirituosas, ou mesmo péssimas, sobre as crônicas de suas vidas, ficou desgastada. Pessoas e suas vidas foram lentamente substituídas pela informação. Informação de uma forma realmente genérica e generalizada.

Mas a completa perda de encanto de certos blogs não me interessa realmente. Eu continuo a favor da velha forma de “diário virtual” dos blogs. Pessoas simples e suas vidas – às vezes, não tão simples – são mais interessantes do que tratamento e procriação de crustáceos radioativos na costa leste do Japão. Sem as pessoas esses crustáceos não existiriam ou não seriam tratados, então seria ótimo se essas pessoas escrevessem suas opiniões sobre seus dias com as lagostas mutantes.

Pessoas são interessantes e suas vidas são interessantes.

E dane-se se estou desatualizado ou se o zeitgeist já foi descoberto e codificado em números para alguma conta cibernética.

E assim, mais tarde, uma minúscula linha foi jogada no infinito mar do ciberespaço, a mais leve das iscas na mais escura das águas.” - Julie Powell

Simples – ou não tão simples assim.


domingo, dezembro 12, 2010

19h20





19h20 e o céu ainda está claro, de um azul forte com poucas nuvens tingidas de vermelho, laranja e ouro.

19h20 e está muito quente e ainda não estamos no verão. Uma fina camada de suor cobre a minha pele, umedecendo minha testa e nunca.

19h20 e eu detesto o verão. Detesto o calor. E detesto não ter ar condicionado no meu quarto.

19h20 de uma noite quente e iluminada, eu escreve porque não há nada mais para fazer.