Antigo Eu,
Daqui a dez exatos dias, você fará 25 anos. É hora de conversarmos. Você, sendo eu, precisar saber o que aprendeu nesse quarto de século. Essa apresentação antecipada em nada vai mudar o seu aprendizado, eu sei. Mas adiantando o que sei, talvez a surpresa do conhecimento não seja assim tão assustadora e, ambos sabemos, que você não gosta de surpresas, que as teme como teme aranhas, insetos voadores, a solidão e a morte daqueles que ama. Também sei que você não gosta de ter medo, assim adianto a surpresa, tentando, ao pôr-la sob a luz, enfraquece-la (eu sei, então nós sabemos, que não podemos destruí-la completamente).
Aos 25, você descobrirá que, mesmo não se dando conta, já é um adulto e que ser adulto não é tão ruim (ou importante) quanto você pensava aos 17. Ser adulto é seguir em frente, tropeçando, esbarrando, caindo e se levantando, em um frenesi quase delirante criado pela necessidade de movimento. Aos 25, você irá se apaixonar (sabemos, você e eu, que isso já aconteceu antes, pouco tempo antes, aos 24, mas o entendimento, como tudo na sua, nossa, vida chega devagar, bem depois, tímido e silencioso) e que o amor não é como nos filmes e livros que você tanto preza. No amor, a vida não imita a arte, mas ambas atuam sobre reflexos esfumaçados de cada uma. Você vai amar e sentir-se completo. Feliz, até. Quem diria? Você vai amar e se entregar, abrir o próprio tórax e, do interior escuro e úmido, retirar uma parte de si que nunca fora dividida. Você vai render-se as fantasias descabidas e não se envergonhará de assumir, na intimidade dos dois, que ama. Você também irá ouvir que é amado, mas, sendo quem é: nós, você não acreditará completamente. É mais forte do que você (nós) consegue acreditar. Mas daqui, em alguns meses no futuro, eu posso dizer que você foi amado, não o suficiente (isso, você do passado, já sabe), mas de forma infinita no espaço finito de tempo que teve. Você vai perceber que através desse amor, você cresceu e, desse crescimento, foi feliz. Mas você (nós: eu e você) sabe que o amor, ao menos esse, não durou. E, eu sei, que você duvida que exista o infinito. Ainda não tenho a resposta para isso.
Você verá o amor se dissolver lentamente e nada fará, não por preguiça ou inércia que são defeito seus (e nossos ainda), mas porque não há nada a ser feito realmente. Depois do fim, você será outra pessoa e reparará com tristeza a mudança dentro de si. Você se tornará frio, distante, temendo um contato, o amor, a promessa do infinito no tempo finito e reclamará (mais do que nunca) que não é amado. Você ouvirá (não posso prometer que não se machucará) que a culpa é sua por não procurar, abrir-se para a possibilidade e você saberá que seus amigos estão certos, mas a verdade, como sempre, machuca e magoa. Eu não poderia te preparar para essa surpresa.
Você passará pálidos dias e longas noites sozinho. Prepara-se. Não, melhor não. As longas noites virão e você perceberá que a solidão é quase palpável. Essa tangibilidade cruel, uma afirmação não desejada da realidade que sempre te machucou, o fará pensar que talvez não seja apto a amar, que não tenha nascido para isso. Você (ambos, nós) sabe que não foi feito para relações. Elas são sempre novas para você e você não reage bem à novidades, sempre temendo-as como teme aranhas e insetos voadores. Haverá dias que a solidão será demais e o ódio também existira, nesse espaço finito, infinito. Você verá que todos amam, o que você é incapaz de fazer. E que todos permitem serem amados. Você também não é capaz de fazê-lo. Na solidão, você notará que livros não são companhias perfeitas. Nem o silêncio que você tanto preza. Esse entendimento também chegará tardiamente, sorrateiro. Você se apaixonará por alguém apaixonado por outro. E a realidade dessa dor, a concepção da realização da falha, o machucará. Mesmo avisando-o, a dor o alcançará.
Mas não se preocupe, existirá felicidade no seu futuro, risadas, bons livros, novas pessoas e entendimento tardios. Para eles, você não precisa ser preparado e nem avisado. Eles chegarão e serão bem vindos.
Eu poderia dizer que tudo será melhor, mas não sei. Talvez o meu futuro possa fazê-lo, mas ele ainda não me escreveu uma carta. Estou (estamos, nós dois) aguardando.