sexta-feira, março 29, 2013

Tanta vida em tão pouco tempo


Tanta vida em tão pouco tempo, pensou Ele.

Ele – o homem, antes menino, no passado: criança – lamentava a falta de tempo, o caminhar constante dos segundos, reunidos em minutos, agrupados em horas, resultantes em mortes. Tanto a fazer, tanta vida a viver e experiências a sofrer em pouquíssimo tempo. Um exemplo, ele pensava, estava ali mesmo, diante dele, ao lado dele, dentro dele: ele havia acordado há pouco mais de uma hora e já estava fora. Fora. Deixara a mãe com um “até mais tarde” sabendo que até e mais e tarde passariam rápido demais e que daqui a pouco estaria dizendo “boa noite” novamente e deitando-se na cama, à espera das horas de sono – o tempo perdido que ele precisava, era fisiologicamente obrigado a gastar de olhos fechados, imaginando mundos enquanto toda a realidade e suas horas inescapáveis corriam lá fora, como crianças brincando de pique.

Acordava todos os dias em torpor e mantinha-se na ignorância autoimposta da vigília desleixada, cansada, ignorante. Gostava de viver na profusão de sentidos largados entre o sono e a vigília. Entendia que ver o mundo através das cortinas alaranjadas das pálpebras fechadas contra o sol concedia a realidadeum tom límpido e distorcido das coisas imaginadas.

Pessoas passavam em suas pequenas ilhas de importância e significado. Elas passavam e Ele observava.

No final do dia, voltava ao estado dos sonhos, escurecendo as pálpebras e admitindo a irrealidade das noites – e a realidade do sono artificial.

Para acordava noutro dia e pensar: Tanta vida em tão pouco tempo.

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