Eduardo acorda e nota a água a sua volta. Também nota que notar não é o melhor verbo para definir o que senti. Sim, ele sente a água ao redor. A sente como uma certeza, uma constante que sempre existiu independente de sua própria existência. Ele não tem importância para a água. Ela é o todo - a existência liquefeita. E nessa existência líquida, o tempo muda, altera seu formato, sua dança, para satisfazer sua rainha: a água.
Todo o tempo do mundo em um segundo.
Desperto, Eduardo olha. E, ao olhar, lembra. Lembra a água tocando o horizonte que, por sua vez, seguindo um ordem que o próprio Eduardo desconhece, toca o universo, que, derramando-se no céu, toca a água novamente. Um ciclo perfeito. Eduardo nada vê ao redor, apenas a água infinita, o horizonte com o Sol balançando paciente nas horas claras e o universo conspirando contra todos em troca de favores.
Assim, olhando, ele percebe A Onda. Sente A Onda. Ela vem do horizonte, logo abaixo da barriga do Sol. Vem rolando devagar, dançando sobre a água, soprando contra a existência. A atmosfera muda, umedece-se; o som cala, esperando. E, com o tempo dobrado pelos encantos da água, Eduardo espera o ultimo segundo para tomar fôlego.
Enche os pulmões de ar salgado. A Onda se aproxima.
Prende o ar dentro dos pulmões, inflando o corpo. A Onda o toma, tirando seu corpo do eixo.
Esvazia os pulmões. A Onda o afoga, tirando-o para si em uma dança forçada, desagradável.
Eduardo gira, perdido nos caprichos das damas Água e Onda. Sua cabeça segue o ritmo estranho da valsa e abandona as barreiras, deixando que memórias e sentimentos misturem-se. Valsando, as memórias de Eduardo sentem e os sentimentos se lembram.
No tempo ondulado, lento, líquido, o segundo termina.
Eduardo acorda.
Seus pulmões estão vazios, mas ele espera paciente, sabendo que a próxima golfada de ar chegará segundos antes da Onda e A Onda sempre chega.
Em um cansado silêncio resoluto, Eduardo enfrenta o dia que nasce. Tem sido assim nas ultimas semanas e o universo conspira contra todos em troca de favores.
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