quarta-feira, novembro 18, 2009

Clube da Leitura

São raras as vezes que eu consigo encontrar um grupo de pessoas que compartilham a mesma paixão por livros e pela literatura. É muito frustrante não poder expor o que eu penso ou o que eu acho sobre determinado livro, autor ou personagem. Muitas vezes quero falar com alguém sobre uma sensação que tive depois de deliciar-me com uma cena bem escrita mas poucas vezes encontro alguém para conversar.

Certos dias (e não são poucos) anseio por sentar-me com um amigo e conversar sobre meus devaneios literários, rir dos mesmos e falar sério, quando a seriedade mostrar-se necessária. Infortunadamente esses momentos são poucos, tenho somente um único amigo para conversar e nossos encontros são parcos.

Niterói é um caso perdido. A cidade simplesmente não tem a vivacidade, a energia boemia do Rio. De segunda a quinta, talvez até sexta, a cidade comporta-se como uma senhora de idade que vai dormir às 10h da noite e aí de quem ficar acordado fazendo barulho até mais tarde. No final de semana ela vira uma Patricinha que adora freqüentar barzinhos caros com suas amiginhas ricas e beber todas torcendo para esquecer no dia seguinte tudo que teve coragem de fazer durante os momentos de escuridão. Encontrar um lugar em Niterói para debater, conversar, trocar idéias sobre qualquer coisa é tarefa complicada.

O Rio, ao contrário, é muito mais multifacetado. Ele pode ser tanto a senhora de idade quanto a Patricinha mas também tem espaço para interpretar aquele grupo de amigos que gosta de se reunir todas as noites de terça-feira só para executar a difícil arte de sentar, rir e conversar sobre as banalidades mais importantes do mundo.

Gosto muito de Niterói, cidade qual sempre vivi. Mas não sou uma senhora de idade nem uma Patricinha.

Para curar, ou melhor, atenuar a minha dependência de atividades pensantes participei, ontem, do meu primeiro Clube de Leitura que aconteceu no sebo Baratos da Ribeiro em Copacabana. Lógico que a vergonha e a timidez não me deixaram levantar e ler algum texto. Muito menos um meu.

Só de me imaginar, em pé, na frente de dez pessoas com todas olhando pra mim e ouvindo a minha voz enquanto eu leio uma texto que querendo ou não expõe uma parte, uma fração, de mim, já me dá arrepios na espinha.

Mesmo não participando ativamente do clube gostei muito da experiência. O local é ótimo para esse tipo de atividade: pequeno, apertado, porém aconchegante, com aquele cheiro de histórias, vidas passadas que todo livro usado possui. O amarelado da madeira das estantes e das páginas dos livros criam um ambiente monocromático que só é quebrado pelas diversas cores das lombadas dos livros. Você se sente mergulhado em um mar cheio de peixes, onde cada peixe tem um mundo para mostrar e uma história a contar. As pessoas são ingredientes tão importante quantos os livros e o sebo em si. Todas estavam reunidas para banhar-se e declarar sua paixão pela literatura. Podia ver os sorrisos acrescentando novas fisionomias nos rostos de todos os participantes. Cada um esboçava uma reação, um janela ínfima para o mundo pessoal da imaginação onde as pessoas mostram-se por completo sem medos nem máscaras, enquanto os contos eram lidos. Passamos a noite mergulhados em história fantásticas, com tempero de horror e de ficção cientifica.

Saí saciado do encontro. Mas já posso sentir o bicho da fome dentro de mim e prevejo novas incursões ao mar de livros.

3 comentários:

  1. Você conseguiu definir muito bem o perfil de Niterói e o do Rio neste sentido. Realmente fica muito dificil fazer alguma coisa quando toda a cidade parece durmir cedo.

    Sobre o Clube de Leitura, eu também gostei muito. Fiquei com uma vontade enorme de participar, de ler também. Talvez o rádio tenha tirado um pouco da minha vergonha em ler para um público.

    Mas temos que agitar aquela ideia de fazer o nosso próprio Clube da Leitura, se não puder ser uma vez por semana, que seja uma vez por mês.

    Abraço!!!

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  2. Esse grupo de leitura deve ser otimo.Va fundo.
    Ja morei em Niteroi tb,mas nao me lembro mais se é legal ou não. Eu era pequena.
    Seus comentarios sao muito legais.
    Bjos,
    Cam

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  3. Eu tambem tenho vergonha de ler em publico! Odeio a minha voz, queria fazer estagio em uma radio para melhorar isso :x

    Adorei seu texto, imagino o quanto voce deve ter ficado realizado!

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