terça-feira, novembro 15, 2011

Sumário emocional ou "that awkward silence"


"Eu não consigo ler quando estou triste." - disse uma amiga, em uma das poucas conversas que tenho com as pessoas sobre livros e seus hábitos de leitura que não envolvam nenhuma piada sobre os meus hábitos de leitura compulsiva.

Como não poderia ser, eu respondi da melhor forma possível: sendo vergonhosamente auto depreciativo. Minhas palavras foram algo em torno disso: "Então, eu não conseguiria ler coisa alguma. Por que a coisa não tá fácil.".

Minha resposta rendeu um silêncio embaraçoso e alguns olhares piedosos que eu preferi simplesmente ignorar enquanto mudava o tópico da conversa para assuntos menos pessoais como, por exemplo, a vida amorosa das outras pessoas da agência.

Dica: Preferencialmente, use pessoas que são detestadas pela maioria do grupo, isso faz o papo render mais e você não precisa se queimar tanto, malhando, sozinho, o pobre coitado enquanto levanta olhares de espanto e respeito à sua língua venenosa. Não que isso tenha acontecido comigo. Nunca. Claro que não.

Voltando os livros, peguei-me pensando mais tarde, enquanto arrancava livros à esmo da minha estante na tentativa de encontrar algum título que nutrice as minhas necessidades emocionais (um grosso e de temática obscura) (fique claro que "grosso" não tem qualquer conotação física e, muito menos, sexual), que minha relação emocional com livros é realmente uma via de mão dupla.

Um personagem, uma descrição ou uma situação específica pode, e consegue, na maioria das vezes, acender uma pequena fagulha que irá se desenvolver potencialmente em uma linha de pensamento obscura. Eu também não consigo ler livro mais "alegres" (não gosto desse adjetivo, mas não consigo encontrar outra nesse lago raso que é o meu vocabulário) quando estou um pouco triste ou mais contemplativo. Em dias assim (ou semanas, seremos sinceros) procuro abrigo em leituras ainda mais introspectivas (Clarice e Caio Fernando Abreu são os meus favoritos). Em épocas mais felizes, coloco as leituras chuvosas de lado e pulo no primeiro título de fantasia ou romance que consigo encontrar (ou comprar, admito).

Para concluir, um ultimo pensamento sobre piadas auto depreciativas que te levam pelo caminho recheado de silêncios embaraçosos e olhares piedosos. Frases de efeito depreciativo servem apenas para aliviar a verdadeira obscuridade dos seus problemas particulares ou sempre as utilizamos quando queremos incrementar uma situação por si só patética? Bom tópico para um futuro texto, né?

4 comentários:

  1. O que mais me deixa mais abismado é que perfis no Twitter que se prestam única e exclusivamente a fazerem piadas auto depreciativas arrastam milhares de seguidores.
    Agora, sobre suas predileções: você conhece João Gilberto Noll? É bem "grosso e obscuro", acho que vai gostar...
    P.s.: Você podia liberar o "Comentar como: name/URL", heim....

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  2. Opa Danilo, não conheço o João Gilberto Noll, mas já vou procurar algo dele.

    Valeu pelo toque sobre o comentários, nunca tinha percebido isso.

    Abraço!

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  3. Eu tb procuro livros que irão, de alguma forma, "dialogar" com meu estado de espirito. Sobre frases depreciativas, acredito que elas têm o único propósito de fazer as pessoas sentirem-se mal quando as ouvem. rs

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  4. Tristeza nao sei se impede leitura, ansiedade sim, a pessoa nao consegue se concentrar e nem tem saco. Isso ja aconteceu comigo? Jaaaaa. Num caso desses , se for de madrugada, assisto um filme de dvd, que tenho aos quilos ou um programa bem idiota de televisao. O que adianta ler sem prestar atençao mesmo, sem ir fundo na coisa ne?
    E quem tem obrigação? So que presta vestibular ou conclui tese... no mais , somos livres para livros.
    Bjos

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